Ridley, Ridley… Você mudou, cara. Não sei se o motivo foi as campanhas de marketing de seus últimos filmes, que insistem em olhar para o passado e intitulá-lo de “lendário” ou “infalível”, ou você simplesmente se cansou. De seus últimos cinco trabalhos, apenas O Gângster (American Gangster, 2007) consegue alcançar um patamar de alta qualidade. Sim, incluo nesta lista Prometheus (Idem, 2012), sua mais nova produção, que encontra-se em um nível de preguiça semelhante ao terrível Um Bom Ano (A Good Year, 2006).
Escrito por Jon Spaihts e Damon Lindelof, o roteiro conta a história de um time de exploradores que, ao descobrirem evidências de que toda a vida no planeta Terra foi criada a partir de um ser alienígena, partem rumo a um desconhecido planeta que parece ser o lar dos nossos criadores, intitulados de Engenheiros. Seguindo esta premissa, os roteiristas tentam criar um híbrido entre Alien, O Oitavo Passageiro (Alien, 1979) e Aliens – O Resgate (Aliens, 1986), incluindo arcos muito parecidos com o que vimos nos dois filmes: temos a heroína que vira uma guerreira ao longo da projeção, o robô cujas intenções jamais conseguimos enxergar com clareza, o burocrata que não hesita um segundo antes de disparar contra um companheiro a fim de garantir a própria segurança… Temos até o supremo clichê da maioria dos filmes do gênero: o afro-americano que, em um momento de altruísmo, se sacrifica para salvar seus companheiros.
Resultado: mesmo com performances bastante expressivas, o elenco não consegue criar personagens que soem reais para o espectador. David (Michael Fassbender), por exemplo, parece sempre estar à mercê do que o roteiro dita, agindo como um clássico vilão em alguns momentos para, logo após, tornar-se uma criatura bondosa e compreensiva.
Dessa forma, os únicos personagens bem construídos são Elizabeth Shaw, ganhando uma interpretação visceral de Noomi Rapace, e Charlie Holloway que, graças ao ótimo Logan Marshall-Green, consegue ser um dos únicos personagens tridimensionais da narrativa. De resto, temos uma interpretação unidimensional de Charlize Theron, Guy Pearce em modo overacting e Idris Elba no automático. Aliás, qual foi o motivo de criar quase 20 tripulantes para a Prometheus, se apenas estes são importantes? Pelo menos os dois pilotos auxiliares poderiam ser retirados sem causar dano algum à trama.
Contando com elementos da obra de H.P. Lovecraft, Spaihts e Lindelof parecem sempre circular ao redor das perguntas “de onde viemos?” ou “para que fomos criados?” sem jamais conseguir respondê-las de fato. Sim, temos algumas discussões sobre o papel da religião ou da fé nas crenças de cada um, mas tais questões ganham respostas tão insatisfatórias que até uma criança poderia ter respondido melhor.
Além disso, a trama em si contém furos e lacunas gritantes, como as reais motivações dos tais Engenheiros durante toda a projeção, a importância da grande escultura em formato de um rosto humano, e até mesmo o estranho e fatal experimento que o robô David realiza em um dos tripulantes. Pior ainda, o filme parece julgar que o seu público tem poucos neurônios, ao tentar empurrar as tais perguntas para uma possível continuação, preferindo concentrar-se em sua trama de terror no pior estilo “B” com reviravoltas forçadas e diálogos expositivos (“Father!”).
E aí entra o segundo pior aspecto de Prometheus: a direção de Ridley Scott. Cineasta cujo estilo visual é sempre forte, Scott parece ter esquecido tudo que aprendeu com sua primeira ficção-científica, cometendo os mesmos erros que fizeram de Hannibal (Idem, 2001) uma experiência visualmente frustrante. Capaz de criar belas sequências, como o prólogo que mostra a criação da vida na Terra ou os minutos em que acompanhamos o dia-a-dia de David, Scott parece ter esquecido como criar suspense, negando-se a deixar qualquer criatura ou situação para a nossa imaginação.
Para piorar a situação, o diretor abusa dos fracos efeitos visuais, concebendo monstros visivelmente ridículos e desinteressantes (atrevo qualquer um a dizer o mesmo do xenomorfo da série Alien). Triste, uma vez que a direção de arte da produção está de parabéns, criando áreas que evocam grandeza, como o interior branco e tecnológico da Prometheus, que se choca ao ser comparado com o interior estéril e seco da Pirâmide Alienígena.
Porém, o golpe de misericórdia é apenas dado ao final da projeção, quando o diretor e os roteiristas tentam criar uma realidade alternativa para este prequel (sim, é realmente uma pré-sequência de Alien), ao alterar o local da morte do principal antagonista que (spoiler) em Alien – O Oitavo Passageiro, falecia com seu peito estourado dentro da nave em forma de semicírculo.
Dessa forma, nascem duas proles indesejadas: um novo tipo de monstro, e uma produção que empalidece ao ser comparada com qualquer exemplar da série original.
Prometheus (EUA, 2012)Direção: Ridley Scott
Roteiro: Jon Spaihts e Damon Lindelof
Elenco: Noomi Rapace, Logan Marshall-Green, Michael Fassbender, Charlize Theron, Idris Elba e Guy Pearce
Duração: 124 min.
Roteiro: Jon Spaihts e Damon Lindelof
Elenco: Noomi Rapace, Logan Marshall-Green, Michael Fassbender, Charlize Theron, Idris Elba e Guy Pearce
Duração: 124 min.
AVISO: Prezados leitores, peço que, se desejarem comentar algo sobre a trama ou aspectos do filme, alertem sobre a existência de spoilers em seus respectivos comentários
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